quarta-feira, janeiro 10, 2007

O que Trish fez - Capítulo 6 (Acidentes)

- E você achou mesmo que eu era outra pessoa, não é?
Uma voz sinistra saída daquele corpo flutuante. As manchas de sangue no vestido branco pareciam crescer a cada minuto. Falava sozinha. Mas ninguem a via. Passava entre as pessoas durante a noite, ia com pressa, mas sem direção. Os cabelos ruivos caiam sobre os olhos negros como o espaço.
- Você viu demais, gótica. Não sei como, mas viu demais.
Parecia conversar consigo mesmo, mas sua voz tinha um alvo. Assim como sua raiva e mágoa. Falava com aquela que havia servido como hospedeira. Falava com a bela Trish Redmore.
- Aquela noite era minha! Eu tinha tudo sob controle! Aquele ônibus não podia seguir o seu caminho tranquilamente! Eu precisava daquelas almas. Eu precisava, gótica.
Alterações no tom da voz surgiam a cada frase pronunciada. Tinha ódio. Odiava tudo. Era a maldade em vida.
- Era simples: eu ordenava, e aquele ônibus caía no lago. Todos morriam, todos iriam comigo, mas não! Você tinha de estar lá para interferir. Achou que gritar ia salvar alguma vida, gótica? Errou. Você deu sua vida para tentar salvar um punhado de gente morta.
A cada passo, o sangue de sua roupa parecia escorrer. Eram marcas da mensageira. Era sua forma de dizer o quanto era perigoso, o quanto era fria, o quanto era audaz.
- Ninguém pode enganar as trevas, gótica. Ninguém! Aquelas pessoas tinham em sua fé uma forma de tentar fazer isso. Imposição às trevas? Até parece! Onde está o Deus deles nesse momento? Provavelmente sentando em um trono enquanto suas almas seguem um caminho sem fim envolto em chamas e lava!
Fazia Trish sofrer. Jogava em suas costas o peso de uma escolha. Mas o que tinha feito de mais?
De volta àqula noite, a jovem Redmore caminhava pela auto estrada 87 de volta para casa, quando viu um ôninbus desgovernado. Correu para o acostamento paralelo, tentando se proteger, mas o que viu foi pavoroso demais. A jovem de cabelos ruivos e vestido manchado passava por entre as pessoas dentro do ônibus. Parecia absorver o interior de cada uma e saía, voltando logo em seguida. Gritos e mais gritos ecoavam daquele veículo. O lago estava bem perto, e o destino daquelas pessoas parecia selado. Foi neste momento que Trish correu para perto do ônibus e gritou, com todas as suas forças. Palavras sem sentido. Medo bem definido. A agitação cessara. Marla tinha olhos incrédulos ao ver a cena. Como a menina de sobretudo negro conseguira enxergá-la? Como era possível. Ela era...especial. Ela podia...acabar com aquilo. Ela precisava ser detida.
Em um gesto ameaçador, a mensageira ruiva transformou o ônibus e seus integrantes em fachos de luz. Em seguida, nada mais havia lá. Apenas as duas, uma de frente pra outra. Marla fez com Trish o que fazia com os corpos do ônibus, passava por ela e voltava sempre, até que, em dado momento, se fundiu a Trish. Redmore caiu no chão se contorcendo. Quando as dores pararam e se levantou, não parecia ser a mesma. Sem lembranças do que acontecera. Viu apenas um corpo caído perto do lago. Uma jovem ruiva, bem ferida. Trish correu em sua direção, tentou ajudar, falou com ela, perguntou seu nome e só obteve uma resposta, antes da garota desmaiar:
- Marla...
As lembranças sumiram quando a mensageira gritou:
- Pois é, gótica. Você foi uma boa menina ao tentar contar a todos sobre mim. Mas o que isso te rendeu? O rótulo de louca, perturbada. Eu não existo aos olhos dos fracos, Trisha. Só você me vê. Só aqueles que podem...só aqueles que são fortes podem me ver.
Marla já tinha o próximo passo definido: a casa dos Redmore. Alguém que lá estava não podia ficar viva. Robertha.
- Sua mãe é a próxima. Seu sangue não é mais digno de continuar.
Antes de avançar, falou algo diretamente para Trish. Pela primeira vez, tinha o medo no olhar.
- Você...você não vai conseguir fazer o exorcismo.